Papa inaugura Clínica San Martino na Basílica de São Pedro

O Papa Leão exorta a Universidade Lateranense a «buscar a verdade»

Após a inauguração do ano letivo na Pontifícia Universidade Lateranense, o Papa regressou ao Vaticano e, por volta do meio-dia, chegou ao Largo San Martino, uma área adjacente à colunata de Bernini, há muito conhecida por acolher os pobres. Aqui, há chuveiros para os sem-abrigo, uma barbearia e a Clínica Madre della Misericordia, que o Papa Francisco apoiou fortemente para prestar assistência àqueles que não têm documentos, dinheiro ou acesso ao sistema de saúde.

A primeira parada da visita do Papa Leão foi na própria clínica. Acompanhado pelo seu esmoler, cardeal Konrad Krajewski, ele se encontrou com o Dr. Massimo Ralli, diretor da Clínica Ambulatorial do Esmoler Apostólico, e com o Dr. Luigi Carbone, diretor de Saúde e Higiene da Governadoria da Cidade do Vaticano. «Foi uma visita privada», disse o cardeal, «porque ninguém tinha sido informado da vinda do Papa, então apenas os médicos de plantão estavam presentes».

Na sexta-feira de manhã, havia cerca de 8 médicos, 4 enfermeiros e 2 voluntários, que já tinham atendido 65 pessoas quando o Santo Padre chegou. O Papa Leo cumprimentou-os e perguntou sobre as atividades da clínica.

Cuidados de saúde mental

O cardeal Krajewski destacou que «o Papa ficou impressionado com o facto de, entre os médicos presentes, haver também psiquiatras. Os nossos pobres também precisam deste tipo de cuidados, o que é muito difícil, porque quando um osso se parte, corremos imediatamente para o serviço de urgências», disse ele, acrescentando que «quando se trata de saúde mental, tudo se torna muito mais difícil».

Os médicos vêm do Hospital Gemelli e oferecem os seus conhecimentos com dedicação e paciência. «Eles têm muito que fazer aqui porque as pessoas confiam neles», acrescentou o esmoler. «Não pedimos documentos, e talvez isso afirme a dignidade deles», disse ele, observando que eles permanecem invisíveis, como sempre estão nas ruas de Roma, «mas aqui, a assistência vai além do nome e do país de origem. Aqui, o que importa é a sua necessidade».

Um novo serviço

«Bom trabalho e obrigado», disse o Papa, enquanto olhava por uma pequena janela perto dos chuveiros, deixando a equipa visivelmente comovida com o seu gesto. Em seguida, agradeceu àqueles que trabalharam na restauração da Clínica Ambulatorial San Martino, que, de acordo com um comunicado do Dicastério para o Serviço da Caridade, agora consiste em duas salas equipadas com tecnologia médica de ponta e um departamento de radiologia.

Uma máquina de raios X de última geração permitirá diagnosticar com rapidez e precisão casos de pneumonia, fraturas ósseas, tumores, doenças degenerativas, cálculos renais e obstruções intestinais — condições frequentemente negligenciadas entre aqueles que vivem na pobreza. Esses diagnósticos precoces permitirão que os médicos iniciem o tratamento adequado o mais rápido possível, levando a uma melhor qualidade de vida para aqueles que não têm nada.

Ver Jesus nos pobres

A nova clínica foi possível graças à colaboração com a Direção de Saúde e Higiene da Governadoria do Estado da Cidade do Vaticano e oferece cuidados abrangentes para aqueles que procuram assistência médica.

As duas clínicas são locais de acolhimento e cura, devolvendo a dignidade aos pobres que procuram o gabinete do cardeal Krajewski. Ele sublinhou o facto de que aqueles que procuram ajuda são pessoas «nas quais não vemos um sem-abrigo, mas o rosto de Jesus».

O cardeal Krajewski disse que o que o impressionou durante a visita do Papa foi o espanto no rosto do Papa Leão ao saber das estatísticas da clínica: cerca de 2.000 pessoas por mês recebem atendimento, e todos os medicamentos necessários são totalmente gratuitos. «Damos-lhes a receita», explicou o cardeal, «e eles entram no Vaticano, são recebidos pela Guarda Suíça e pelos gendarmes, vão à Farmácia do Vaticano, apresentam a receita e recebem os medicamentos sem pagar nada».

O esmoler papal enfatizou que esse gesto ajuda a evitar que os pobres se sintam rejeitados ou inferiores aos outros. «Todos têm direitos, mesmo os pobres». Antes de partir, o Papa agradeceu a todos os presentes pelo seu trabalho e dedicação.

Na semana que antecedeuo Dia Mundial dos Pobres, em 16 de novembro, o cardeal Krajewski partilhou uma mensagem que lhe é muito querida: «Sou crente, católico, e a minha lógica é a lógica do Evangelho. Ajudamos verdadeiramente o próprio Jesus, porque Ele disse que estava nu, estava na prisão, estava doente e, hoje, podemos dizer que era um refugiado. Fazemos tudo isto por Ele, que se mostra através dos diferentes rostos do mundo».

«É difícil reconhecê-lo», continuou o cardeal, «temos de fazer um esforço; é preciso fé. Agradeço ao Senhor por me dar essa fé e, após 14 anos de serviço como esmoler, estou agora plenamente convencido de que, quando ajudamos — lavamos o corpo, damos medicamentos, cortamos o cabelo e vestimos as pessoas —, estamos a ajudar o próprio Jesus».

Serviços de saúde gratuitos

A Clínica San Martino trabalhará em conjunto com a Clínica Madre della Misericordia, que oferece cuidados de saúde gratuitos diariamente a pessoas que vivem em situação de pobreza, marginalização ou dificuldades — guiada pelos princípios do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja.

A clínica ambulatorial atenderá milhares de pessoas todos os meses, graças a 120 médicos, enfermeiros e técnicos de saúde voluntários. Cerca de 10 000 pessoas de cerca de 139 países diferentes receberam cuidados. Até à data, foram prestados 102 060 serviços médicos totalmente gratuitos aos mais necessitados, juntamente com 141 200 embalagens de medicamentos.

Nas duas clínicas, os necessitados poderão receber consultas médicas gerais e especializadas, cuidados dentários, análises ao sangue e exames radiológicos. Além disso, serviços como próteses dentárias removíveis, óculos e aparelhos auditivos são oferecidos, se necessário. Os medicamentos prescritos são sempre totalmente gratuitos.

A imaginação da caridade

Ao relatar as origens destas infraestruturas, o cardeal lembrou que o desejo do Papa Francisco era criar um espaço dedicado à caridade na Praça de São Pedro. «Sob a Colunata, é impossível», explicou. Mas, depois de ter procurado, pediu permissão ao Papa para ocupar o espaço usado pelo edifício dos serviços postais.

«O Papa Francisco respondeu então: “Você não o tomou, você roubou-o dos Correios”», disse ele rindo. Todas as outras iniciativas surgiram posteriormente, incluindo os chuveiros, a barbearia, a clínica e, hoje, a Clínica San Martino, sobre a qual o cardeal disse: «Estou muito feliz».

Este artigo foi atualizado às 14h55.